Noite. As gotas pesadas de chuva castigavam a janela do quarto incansavelmente. Tac-tac-tac. Lá fora, o vento balançava a copa das árvores, vergava os grossos troncos com uma violência assustadora. O homem aguardava, sozinho, naquele quarto barato em um motel miserável na beira da estrada. “Carpe Diem Motel, A maior qualidade para satisfazer suas maiores fantasias”. Lixo, sim senhor, uma tremenda porcaria. O papel de parede estava descascado em diversos pontos e goteiras espalhavam-se pelo teto, ao ponto de uma delas ter estragado o aparelho de televisão do quarto em que o rapaz aguardava. Não sabia ao certo quanto tempo continuaria esperando, mas julgava que, graças à chuva repentina, seria bem mais do que previra.
Levantou-se da poltrona e dirigiu-se até a cômoda próxima à cama. Pegou uma pequena embalagem de fósforos – cortesia do estabelecimento, vejam só! – e acendeu um cigarro. Ficou fumando pacientemente, de pé, deixando a fumaça escapar pelas narinas e pelos lábios entreabertos. Passou a mão livre pelos cabelos molhados, agitando-os e fazendo respingar água na cama e nos móveis – “móveis o diabo, não havia quase nada naquela porcaria de quarto” – ao redor. Aproximou-se da janela e abriu-a, apoiando os cotovelos no parapeito e sentindo o vento e a chuva fria castigarem-lhe o rosto. O cigarro apagara-se e caíra. O homem pressionava os lábios, olhando a auto-estrada deserta e iluminada exclusivamente pela pouca luz do luar que conseguia atravessar as nuvens negras e agourentas no céu acima. Cruzou os braços sobre o parapeito e apoiou neles o queixo, cerrando os olhos. Adormecia quando duas batidas firmes na porta às suas costas ecoaram no pequenino aposento.
− Já estava na hora. – resmungou, rodando a chave e girando a maçaneta. Aguardava, do outro lado, um homem na casa dos cinqüenta anos, cabelos grisalhos bem cortados, óculos de aros circulares e uma barriga saliente. Vestia uma calça e camiseta pretas, com um impermeável da mesma cor. Cumprimentaram-se com um profissional aperto de mãos e o recém-chegado adentrou o aposento.
− Trouxe o dinheiro? – perguntava o Primeiro Homem, esfregando as mãos, apreensivo. O outro balançou a cabeça em sinal afirmativo, perguntando em seguida:
− Trouxe sua parte? – de imediato, o Primeiro Homem sacudiu uma chave que saíra do bolso interno da jaqueta que usava. O Segundo sorriu satisfeito.
Sentaram-se na cama, olhando-se fixamente. Nenhum dos dois tinha interesse em prolongar muito mais aquilo e dar pensamentos errados ao balconista do motel. Assim sendo, o Segundo Homem jogou sobre o colchão um saco marrom, que parou na metade do caminho que separava os dois. O Primeiro Homem estendeu o braço e pegou o saco, examinando o conteúdo interno. Enfiou a mão e tirou de lá um grosso maço de dólares preso com um elástico. Rapidamente contou as notas e sorriu satisfeito. Meio milhão de dólares em benjamins. Guardou o conteúdo no bolso e arremessou a chave em direção ao Segundo Homem.
− Foi um prazer fazer negócio com você. – disse o Primeiro.
− O prazer foi todo meu. – respondeu o Segundo. Ambos sorriam, certos de que saíram com o maior lucro do acordo. O Primeiro deixava o aposento contente com o dinheiro. O Segundo levava consigo a chave de uma casa onde uma mulher dedicada e dois lindos filhos esperavam o novo chefe da família.
Muito, muito bom cara!
ResponderExcluirParabéns.
Realmente,não tenho nada a dizer .. :x
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