Capítulo I – Batalhas, tesouros e aventuras
Uma escuridão mórbida predominava na antiga Floresta DeadBone, sobrepujada em alguns pontos pela fraca luz do luar que atravessava as densas copas das árvores, iluminando o suficiente – e não mais que o suficiente - para que um agrupamento de seres que nela se embrenhava pudesse orientar-se sem acender lampiões ou tochas. Ouvia-se apenas o farfalhar de folhas secas, o sopro do vento e as contidas respirações daqueles seis nas trilhas apertadas e quase ocultas pela vegetação rasteira. Os verdadeiros moradores da floresta, animais selvagens, pareciam recolher-se perante a passagem dos poderosos indivíduos, que cumpriam uma missão não menos que excepcional.
— Olecram... pode repetir por que é que nós não poderíamos ter vindo por magia – Quem falava era um indivíduo atlético, alto, com longas orelhas pontudas e cabelos louros adornando seu rosto fino com dois grandes olhos verdes incrustados, como duas maravilhosas esmeraldas. Era Didier, um elfo. Aquele que se chamava Olecram suspirou e disse como quem explica algo a uma criança pela milésima vez:
— Lichs são criaturas de grande poder mágico e costumam bloquear qualquer teletransporte na área em que residem. Trouxe-nos o mais perto e seguro possível. Além do mais, são só alguns metros... — e então um sorriso bem humorado seguido de um maneio de cabeça do elfo.
— Olha só, parece que chegamos... — Bruce quem se pronunciava, um minotauro forte e imponente, como todos da sua raça, vestindo uma armadura dourada com o desenho de um touro em chamas no centro, a marca de sua divindade, Tauron, o Deus da Força.
O grupo parara na orla da floresta, cujas copas das árvores balançavam com o forte vento, contemplando a planície que se estendia por incontáveis metros, e a uns 20 metros de onde estava, uma torre negra erigida sobre um pequeno morro, parecendo tentar arranhar a lua ou roubar dela um pouco de seu brilho, como se fosse uma grande mão negra feita de pedra. Era lá a parte mais complicada da missão: derrotar o lich e recuperar um belíssimo colar roxo brilhante. Eles foram contratados por um nobre da cidade de Zakharov que tivera a maior preciosidade da família roubada, e após algum tempo de investigação, descobriram o ladrão e a sua localização. Agora faltava recuperar a jóia e levá-la de volta a Lusther Napalalm.
— Parece desprotegido... — comentou Lemmy enquanto uma baforada de vento jogava seus longos cabelos para trás.
— Ele deve estar dormindo! — Didier disse empolgado, com sua felicidade habitual, fazendo a maioria dos companheiros ao menos esboçar um sorriso.
— E aí Olecram, vai procurar por ilusões ou tá...
— Shhh... estou procurando, estou procurando! — Durotar ,o bárbaro, começara mas logo fora interrompido pelo mago que apertava bem os olhos, correndo-os pela torre, murmurando palavras arcanas. Instantes depois, virava-se para os demais, dando de ombros.
— Parece abandonado, sem nenhum tipo de proteção mágica ou qualquer coisa assim...
— Então, esperando o quê? Vamos lá descer o cacete nesse monte de ossos empilhados! — O selvagem mal podia conter sua agitação, apertando seu machado firmemente com as duas mãos e mordendo os lábios, vez ou outra dando uma sacudida na cabeça, balançando os longos e desarrumados cabelos louros.
—... Isso se ele estiver aí. — era voz calma e baixa de Maglor, o membro furtivo do grupo, aquele que observa e compreende tudo com facilidade espantosa, mas pronuncia-se muito pouco.
— Ele tem que estar, não há outra opção... – respondeu Olecram, em um tom que transparecia preocupação.
Depois de mais um tempo definindo os últimos detalhes do plano de abordagem, o grupo seguiu atravessando a planície, sentindo a relva macia e úmida acariciar-lhes as pernas enquanto a lua cheia era encoberta por algumas nuvens escuras. Minutos depois, estavam de frente a uma porta simples de madeira podre, com a parte inferior destruída em alguns pontos. Do outro lado, silêncio.
— Maglor... — Lemmy tão logo começou, foi interrompido pelo ladino que se aproximava, estendendo a mão aberta em direção a ele.
— Já sei, já sei... um minuto só. — E então, iniciou uma análise da porta com calma, correndo os olhos semi-cerrados por toda sua extensão, atento a cada detalhe, acostumado a notar aquilo que todos ignoravam. Depois de algum tempo, ele se virou para o grupo, murmurando:
— Sem problemas.
E então a porta foi aberta com um longo rangido, enquanto cada um entrava cautelosamente na torre escura e fétida, correndo os olhos por ela, apesar de apenas Didier conseguir enxergar à frente do próprio nariz, graças aos olhos privilegiados de sua raça. Lemmy desembainhou a espada e imediatamente um facho de luz saiu das mãos de Olecram, fixando-se na arma que passou a funcionar como um grande lampião, revelando o aspecto do local em que se encontravam. Era um cômodo circular, sem nada que pudesse ser considerado mobília (havia alguns restos de madeira podre que há muito tempo deveriam ter sido cadeiras e mesas), uma pequena cavidade na parede que parecia servir como lareira e, no extremo esquerdo da sala, uma escada com ares traiçoeiros que levava ao segundo andar.
— Se eu fosse um lich super poderoso não iria escolher um lugar tão desconfortável assim... — comentou Olecram enquanto franzia as sobrancelhas, olhando pelo lugar.
— Humpf... não se esqueça que ele está tentando se manter oculto, mago. — o minotauro Bruce respondeu, com seu olhar impaciente e fala impassível. De todos no grupo era o que menos tinha paciência para gracinhas em momentos como aquele.
— O diabo que quer! Se quisesse tinha mandado umas trocentas magias pra ocultar essa porcaria! — Mesmo falando de tal forma, Olecram não transparecia nenhum tipo de nervosismo, pelo contrário, mantinha seu típico sorriso jovial e malandro.
Após alguns minutos vasculhando o primeiro piso sem achar nada que não fosse poeira, teias de aranha ou madeira podre, os seis iniciaram a subida rumo ao segundo andar, passando pela aquela escada tão confiável quanto um grupo de kobolds sarnentos. A cada passo, os degraus rangiam dolorosamente, gritos angustiantes que ecoavam por toda a torre, anunciando a quem quer que estivesse lá em cima que alguém perturbava a paz na parte de baixo. A subida fora lenta e cautelosa, sob o constante perigo da escada ruir e atirar todos em uma queda não menos que desagradável, mas por fim o grupo chegou intacto ao segundo andar que, como era de se esperar, não se apresentava muito mais conservado que o primeiro, excetuando por umas belíssimas cortinas arroxeadas com bordados em ouro que tremulavam em frente às janelas do lado esquerdo daquele longo corredor que era o andar de cima. Ali a iluminação era favorecida devido à luz da lua cheia que penetrava em diversos feixes, e juntamente com a espada-farol, permitiam ao grupo observar o fim daquela passagem: uma grande porta dupla de madeira em cujo centro encontrava-se talhado o mesmo bordado que adornava as cortinas, um “N” grande em uma fina caligrafia.
— Napalalm... – sussurrou Maglor e os demais membros do grupo também já deduziram que atrás daquela passagem encontrava-se o fim da missão, fosse esse bom ou trágico.
— Armas. – bradou Lemmy, não que fosse necessário, pois todos os membros do grupo já as traziam em mãos, exceto o distraído Didier que, apenas após o alerta do guerreiro, sacou seu arco, munindo-o com uma flecha simples vinda da sua aljava localizada às costas. Apesar de saberem o que deveriam fazer, ninguém se mexeu, apenas permaneceram fitando, impassíveis, a porta, até que Bruce resolvera se pronunciar em seu tom de voz firme, capaz de fazer hesitar o mais bem disciplinado dos guardas.
— Anandriel! Anandriel Napalalm, nós sabemos que estás aí, escondido em algum lugar. Não fuja do combate, apareça e nos enfrente! – nada. A porta continuava estática, muda e o único som era o das cortinas em sua constante dança, acompanhadas pelo vento. — Vamos! – E mais uma vez, nada aconteceu. Sentindo a tensão aumentar sobre os ombros de cada um, o grupo prosseguiu até ficarem frente a frente com a porta. Normalmente, em uma situação dessas, a primeira coisa a fazer seria repetir os passos tomados quando eles adentraram a torre, mas por um motivo qualquer, Durotar, mal conseguindo refrear sua impaciência em destruir mais um monstrinho inútil que só sabia se esconder em uma fortalezinha podre e fedida, saiu do seu lugar tradicional na formação e acertou um forte chute no meio da porta, fazendo-a se abrir com um grande estrondo.
— Má que diabo Durotar por qu... – a frase do elfo morrera no ar, porque o cômodo que se revelou diante dos olhos deles era não menos que surpreendente: contrastando com todo o resto da construção, a nova sala era um aposento retangular, com quadros representando um louro com um traço de nobreza em diversas situações, além de um tapete vermelho se estendendo horizontalmente, da esquerda para a direita. O grupo caminhou para dentro e, assim que chegaram onde se estendia o veludo escarlate, viram o que os esperava. O tapete estendia-se até um grandioso trono, encostado na parede e sobre uma espécie de altar, cercado por duas grandes tochas que se encontravam acesas com um fogo azulado. E o mais importante: sentada no trono, de modo que um calcanhar ficasse sobre o joelho oposto, estava uma criatura apavorante, usando roupas que deveriam ter sido extremamente luxuosas e caras em um passado remoto, todas em tons escuros variando do negro ao vinho, o corpo todo esquelético e pequenos círculos vermelhos que pareciam arder em chamas brilhavam nas órbitas daquele rosto sem pele ou músculos. Em volta do que sobrara do pescoço, repousava uma belíssima jóia, um colar com uma pedra preciosa de um lilás brilhante, ostentando pequenos traços dourados que a invadiam até seu centro.
— Bem vindos, meus queridos – O lich falava com uma voz firme e maliciosa, daquelas que seduzem facilmente as damas e manipulam com ainda mais facilidade as multidões. Ele se levantara e agora descia lentamente as escadas do altar, segurando uma taça de um líquido que parecia ser vinho na mão direita. — Sabia que viriam... Lusther é mesmo... – as divagações de Anandriel foram interrompidas pelas palavras rudes do bárbaro
— Por que é que você não fecha essa merda de buraco que você chama de boca e nos entrega esse colar? Assim vamos poupar esforços para um resultado que todos já sabemos que irá acontecer.
— Perfeitamente, Durotar. Podemos logo de imediato começarmos o conflito. Mas, por que não reconsideram suas atitudes e abandonam a missão? Acreditem-me senhores, com toda certeza teriam uma vida mais longa e agradável do que se levarem isso tudo adiante. – Se o rosto de Anandriel fosse capaz de mostrar alguma expressão, retrataria uma generosidade típica de um suserano benevolente que, ao mesmo tempo, exige muito de seus vassalos.
— Por que, ao invés disso, você não lambe minhas bolas? – o bárbaro prosseguiu, já sorrindo. Ao contrário do que a primeira impressão poderia sugerir, Durotar era consideravelmente esperto. Anandriel já estava prestes a responder, até que...
— Basta de bravatas! – Era Lemmy, que corria em direção ao inimigo, a lâmina da espada apontando para trás, bem firme em ambas as mãos do guerreiro. — Defenda-se!
— Como desejar. – A taça de vinho do lich transformou-se mais rapidamente do que um piscar de olhos em uma espada feita de vidro. Ainda que pudesse parecer frágil, a nova arma aparou o golpe de Lemmy com um estalido alto, sem nenhuma rachadura, então, com um movimento de velocidade e força improváveis, Anandriel levantou o braço que empunhava a arma, fazendo o oponente abrir a guarda, para um raio de energia vermelha surgir da mão livre do lich, arremessando Lemmy a metros de distância. O guerreiro rodopiou no ar antes de atingir o chão com um baque surdo, entretanto, graças ao tempo que gastara contra-atacando, Napalalm só notou o minotauro quando este já se encontrava sobre ele, com o machado erguido acima da cabeça. Um urro de gelar a espinha precedeu um golpe de cima para baixo, dotado de uma força descomunal que partiria o crânio do monstro em vários pedaços se não fosse uma rápida jogada de corpo para a direita, fazendo com que Bruce acabasse com a lâmina fincada no piso.
— Quão ingênuo, Clérigo. – voz dotada de desdém e mais outro raio de energia vermelha preparava-se para ser disparado por Anandriel quando chifres atingiram-lhe em cheio o peito. Sentindo algumas costelas se quebrarem, o monstro recuou. Em instantes, já tinha o corpo em perfeito estado.
— Não fale, só lute seu saco de ossos. – manzorra direita estendida e então uma grande espada de energia luminosa surgiu nela e Bruce voltou a se engajar em combate corporal com o lich, que defendia e estocava com sua lâmina de vidro.
Maglor oculto nas sombras, Didier disparando incansavelmente flechas que apenas desviavam-se do alvo quando se aproximavam, Lemmy já novamente de pé e indo de encontro a Napalalm, agora fortificado pelos encantamentos de Olecram, acompanhado de Durotar. O mago esquadrinhava a sala com seus olhos negros e os lábios fortemente contraídos, assim, em alguns instantes, ele apontou para um ponto da rocha acima de onde o combate direto ocorria, dizendo:
— Didier, flechas de gelo ali. – Em um primeiro momento, o elfo não entendera o porquê do ato, mas sempre acostumado a cumprir ordens e não a compreendê-las, realizou o que foi pedido. Tirou uma flecha comum e encaixou-a no arco, puxou a corda até o limite e murmurou:
— Do gelo, vem o poder. – o ar em volta do arco foi se cristalizando, a temperatura caindo consideravelmente quando minúsculos flocos de neve surgiram em volta da arma, que adquiriu um azul brilhante e translúcido, assim como a flecha que nele se encontrava. O elfo fez mira na região dita pelo mago e disparou, fazendo a rocha congelar-se imediatamente.
— Perfeito. – gestos e palavras arcanas seguiram-se ao sorriso de confiança de Olecram e, em segundos, uma poderosíssima coluna de chamas partiu de suas mãos eestendidas até a pedra congelada, que se fundiu escorrendo abaixo, exatamente no local em que estava o monstro.
***
Luz contra Vidro. Golpe à direita, bloqueio seguido de contra-ataque de baixo para cima, seguido de outro bloqueio. Uma dança de combate, cada passo executado com exatidão. Um erro poderia significar a morte ou, pelo menos, um ferimento grave. Os pequenos olhos de touro encaravam aqueles pontos vermelhos que chamejavam nas órbitas do lich, onde um dia existiram brilhantes olhos cor de mel.
Nem uma palavra era trocada entre os dois combatentes, nenhuma bravata era proferida, nem mesmo o tradicional barulho de lâminas se chocando era ouvido, já que as armas fugiam do comum, Luz contra Vidro. Em um corte transversal de força impressionante, Bruce conseguiu desarmar o adversário, fazendo a espada voar em direção ao trono e se estilhaçar ao atingir o chão. Um meio sorriso triunfante no rosto do minotauro, mas quando se preparava para abrir o peito do monstro, um líquido fervente derramou-se sobre o esqueleto, fazendo-o cair de joelhos gritando, os trapos grudando-se aos ossos. Em instantes, uma lâmina larga, disposta de forma horizontal, acertou-lhe o crânio. O golpe foi seguido por uma machadada em um dos ombros, o barulho de ossos se partindo fez-se ouvir. Eram Lemmy e Durotar que se juntavam ao combate, prestes a terminar. O monstro jazia no chão em uma poça fervente, rodeado por homem e minotauro.
— Esperava mais de você, ossudinho. – risada alta, rosto confiante. O bárbaro estava convicto de sua vitória quando sentiu uma aguda pontada de dor no estômago: Uma lança toda feita de ossos perfurara-lhe a barriga, fazendo o sangue jorrar farto, caindo sobre as pedras escuras e subindo à boca do homem, que caía de joelhos ao mesmo tempo em que o lich se levantava, seu braço direito, que originara a arma, ausente. Encarava Lemmy e Bruce com um olhar sedento de sangue, uma expressão que indicava que as brincadeiras já terminaram.
— Merda... – era só um murmúrio, mas mesmo assim possuía um quê de preocupação, perturbando a face quase sempre inexpressiva do guerreiro. Lemmy voltou-se para a posição de combate, ajeitando a empunhadura da Espada dos Tolos, enquanto Bruce tentava evitar que os últimos fiapos de vida de Durotar se rompessem.
— Oh, ouvi direito? O todo-poderoso Lemmy está com medo? Não se preocupe rapaz, farei sua morte algo rápido e indolor, prometo. – e então uma risada de congelar os ossos, um som de morte que fazia suar frio, deixava quem escutava paralisado, vendo cenas em que acabava por morrer de forma terrível, queimado por baforadas de dragões, empalado em uma lança semelhante a que atravessara Durotar ou a mais horrenda delas: decepado parte a parte por um carrasco em mantos negros portando uma foice prateada. Assim, perdido nos devaneios de sua própria morte, Lemmy nem mesmo percebeu que Anandriel sumia e reaparecia às suas costas, com um simples toque sugando-lhe cada porção de energia do corpo, deixando-lhe fraco e sem motivação para nada, a não ser dormir, dormir eternamente. E assim o guerreiro tombou de olhos fechados, juntando-se ao bárbaro que agora possuía apenas um monte de sangue coagulado no ventre. A lança-óssea passara às mãos do minotauro.
— Um pedaço seu, Anandriel. O que acha de ser derrotado por si mesmo? - era Bruce, confiante, certo de que ali estaria a ruína do lich, atacado pelo próprio corpo. E assim pensando, investiu, estocando com a lança rumo ao peito do oponente, porém, este nada fez a não ser cruzar os braços e mais uma vez rir, enquanto o osso adquiria uma consistência mole e escorregadia, transformando-se em uma serpente branca que enrolou-se ao braço do minotauro e em instantes cravava suas presas naquele gigantesco pescoço marrom, obrigando Bruce a recuar, lutando contra o veneno e contra o recém-formado animal.
— Como você disse Clérigo, um pedaço meu. – sorriu da forma que o rosto de caveira lhe permitia, virando-se para Didier e Olecram, sozinhos no centro da sala. O elfo engoliu em seco ao passo em que o mago encarava o monstro firmemente, mas com o olhar estranhamente vago, como se não prestasse atenção no lich.
— Acho que essa seria uma boa hora, companheiro... – Olecram murmurava para si próprio enquanto Didier disparava pares e pares de flechas geladas rumo ao monstro, que apenas enviava-as às paredes, caminhando rumo aos dois, realizando seus gestos arcanos e murmurando palavras ininteligíveis. Ao perceber isso, Olecram pareceu voltar a si, analisando e calculando em velocidade espantosa cada um dos movimentos do mago-lich, de forma que quando um raio prismático foi disparado por este, aquele já se preparara, revidando com a mesma energia. Os dois raios chocaram-se no meio do trajeto, uma confusão elemental, um feixe tentando sobrepujar o outro, os magos em uma competição de poderes capaz de pulverizar castelos. Os mantos de Olecram agitavam-se furiosamente assim como seus cabelos, os olhos extremamente focados à frente, até que gritou.
— Okay, ESSA seria uma boa hora! – e, súbito, a energia do lich sumiu, Olecram cancelando imediatamente a dele, suspirando aliviado e esgotado ao mesmo tempo. O monstro encontrava-se caído, uma adaga arroxeada pulsante perfurava-lhe a parte posterior do crânio, o pescoço dobrado em um ângulo impossível. Atrás do amontoado de ossos, os cabelos grisalhos chegando até o final do pescoço, um sorrisinho triunfante, estava Maglor Anárion.
— Achou que eu deixaria vocês na mão? – aproximava-se de Olecram e Didier, parecendo estar se divertindo.
— De forma alguma companheiro, achei apenas que você pudesse ter se distraído demais com algum pedaço de ouro, não? – tom divertido do mago, que erguia as duas sobrancelhas como se sugerisse ao outro a aceitar sua hipótese. Maglor deu de ombros e indicou os companheiros caídos com a cabeça.
— Temos que dar um jeito neles.
— Tenho poções! – era o elfo, já com alguns vidros de um líquido verde-azulado nas mãos.
***
Estavam os seis já de pé, preparados para voltar a Zakharov e cumprir a missão. Maglor segurava o colar e um pergaminho que encontrara em um baú próximo ao trono do lich, cujo conteúdo era um mistério, mesmo para quem possuía algum conhecimento em escritas estranhas. O saco de ossos já havia sido completamente destruído, assim como qualquer outro bem que possuísse ares de filacteria. Filacteria é uma espécie de recipiente onde os lichs armazenam sua energia vital, sua essência, o que permite a eles ressurgir mesmo após ter o corpo destruído.
— E agora Olecram, será que dá para nos dar uma ajudinha mágica? – Era Didier, já preparando suas pernas para um possível (e provável) “não” como resposta.
— Bem, eu gastei muita energia arcana no combate com o lich... – suspiros de todo o grupo, alguém já começava uma argumentação, mas Olecram insistiu. — Só que como sabia que iríamos vencer, guardei algo que pode ser útil. – sorriu, já conjurando a magia que os levaria pelo caminho de volta.
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