O que mais me agonia é uma página em branco. Essa barrinha escura zombeteira piscando repetidamente, provocando-me, como se fosse um ser consciente da minha crônica incapacidade de concretizar ideias em uma história. E igualmente irritantes tornam-se as constantes reclamações sobre a dificuldade que possuo para escrever. Creio que criatividade não é aquilo que me falta, pelo contrário. Incontáveis são as vezes que, em momentos simples como aquele intervalinho entre as aulas para um café expresso, vejo-me descrevendo – chegando, de fato, a escrever na mente – uma cena. Isso, contudo, apenas torna mais doída a não junção de cenas esparsas em um mísero conto sequer. Mísero conto. Míseros contos. Escrevi dois nesse ano, apenas dois. Um absurdo, uma quantidade ínfima, desprezível para um sujeito que tão humildemente almeja ser um escritor publicado. Não um escritor da Academia Brasileria de Letras, os empolados que trepem com suas gramáticas à vontade. Só quero levar leitores por auto-estradas desertas, bares enfumaçados em que um rock n’roll esquecido toca, apresentar-lhes frígidas mulheres de quarenta anos, traiçoeiras mulheres de vinte e muitos vigaristas com sorrisos brilhantes e cabelos compridos. A vontade é tanta que eu posso senti-la pulsando pelo meu corpo a cada vez que penso nas minhas estórias. Então por que, diabos, tamanha dificuldade em conclui-las? Baita de um raciocínio circular esse, Senhor.
Não ousaria culpar o tempo – ou a falta dele. Por mais que os finais de semestre possam ser inclementes, são apenas finais de semestre. Eu posso ter escrito algo nas últimas férias, mas precisar esperar por um momento de tão grande ócio para conseguir preencher um papel é absurdo, revoltante. Ademais, onde é que vai parar o resto dos meus semestres? Tempo são palavras, palavras são estórias (e histórias) e estas, finalmente, são livros.
No entanto, talvez o pior de tudo seja isto: às vezes eu sinto que escrever (não dissertar, não fazer poesia, apenas criar histórias) é uma das únicas coisas que eu realmente sei fazer. Algo que, perdoe-me a aparente arrogância, faço (ou poderia fazer) bem. Muito provavelmente não tão bem como gostaria, como seria desejável ou como deveria ser feito segundo os “mestres” do negócio, mas algo que esconde em si um potencial não desprezível. E essa potência só seria transformada em ato com treinamento. Não é disso que se trata tudo na vida, afinal? O esforço sobrepuja o talento, ainda que este componha uma pouca porcentagem do sucesso.
Não costumo escrever desabafos. Acho-os cansativos, desinteressantes e muito comuns nos posts de hoje em dia. Não é muito agradável ir de blog em blog apenas lendo desabafos. Contudo, a minha agonia fez-me procurar um documento em branco como ombro amigo. E, no fim das contas, fez-me bem.
Finalizando, arrisco-me em parafrasear John D. Macdonald ao dizer que, felizmente (ou infelizmente, dado a quantidade de lixo que se vê por aí), para escrever, basta escrever. E, claro, ler um bocado se você deseja realmente aprender o ofício. Não é como neurocirurgia. Não mesmo.
Victor,1º vou dizer o q todo mundo diz: adoro ler seus contos. Agora vem o eu, Cathelíjne: qdo li pela 1ª vez um conto seu, pensei cá com meus botões, "parece profissional". Então, larga de bobeira e escreve menino! Escreve td o q te ocorrer, não fica analisando antes msm de COMEÇAR o negócio. Era isso.
ResponderExcluirPS: juro q tive de procurar o significado do "inclemente" no dicionário